quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Caim e Abel


O quadro lembra uma foto da página policial da Folha de Pernambuco, que de fato foi a fonte para esta pintura. Faz um ano que vi a foto e li a história triste do homem deitado, morto, e seu parente, um irmão, em pé, indignado.

O que aconteceu? O morto era pedreiro, gostava de tomar uma e bebo se envolveu numa briga de bar no Ibura. Apanhou bastante. A polícia o levou para a UPA onde foi medicado e logo mandado para casa. De novo a polícia o levou, ele entrou em casa andando, deitou-se, cobriu-se e morreu devido ao espancamento. A história terminou aí. Ninguém foi responsabilizado.

Me veio à mente a história de Caim e Abel e a pergunta insistente de Deus a Caim: “Onde está teu irmão?” Caim: “Sei lá, por acaso sou responsável por meu irmão?”

Na minha pintura é Caim que levanta a mão em defesa de si mesmo, esconde o rosto, já pronto para sair da cena. Abel deitado, meio cinzento como o cobertor e o chão, lembra até o Cristo Morto. Claro e escuro dividem a tela. Um saco de cimento aberto no meio da casa pois a vida está em permanente construção. Os bens duráveis de sempre e de todos, som, liquidificador, ventilador e televisão. Cascos secos, sobras de algum prazer. Comida pouca. Tênis guardado para ocasiões especiais. Retrato da pobreza.

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