quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Pretextos

Em julho e agosto de 2014 farei uma exposição individual na Galeria Arte Plural no Recife Antigo com o título de "Pretextos". Trata-se de uma série de pinturas que estou trabalhando há dois anos. Escrevi um pequeno texto que procura refletir sobre o propósito dessa série. Abaixo seguem algumas imagens de quadros que fiz recentemente.


PRETEXTOS
(bíblicos para uma pintura contemporânea, pictóricos para uma teologia libertária)

Na história da arte ocidental, particularmente, no período da cristandade anterior aos processos secularizantes da modernidade, os artistas recorriam a histórias de mitologia bíblica e/ou clássica como motivo, digamos pretexto, para trabalhar temáticas que se faziam presentes na história da humanidade independente de qualquer credo ou até conjuntura histórica. Trata-se de arquétipos da psique humana e do comportamento humano, por sinal, presentes até hoje.

Eros e tânatos, vida e morte, são os eixos determinantes. Amor, sexo, reprodução em todas suas formas e tramas. Violência, vanitas, decadência e finitude como outro lado da medalha da vida.

Alguns exemplos: para pintar cenas de bordel servia a história do Filho Pródigo. Para oferecer um olhar voyeurístico ao espectador pintava-se Susana no Banho. A história de Judite e Holofernes mostra o poder sedutor da mulher que faz o homem, literalmente, perder sua cabeça.

O gênero da pintura histórica era o mais valorizado nos séculos XVI e XVII. Em comparação com os gêneros da paisagem, da natureza morta e do retrato, a pintura histórica era considerada como a mais difícil por causa do seu aspecto narrativo. O desafio era contar uma narrativa inteira em uma imagem só. Muitas dessas pinturas tornaram-se imagens emblemáticas, ícones históricos, por sua força de comunicação.

A partir do século XX a fotografia e o vídeo cumpriram essa tarefa documentalista e mais do que isso: a tarefa de conferir um significado simbólico a um evento histórico. Há somente algumas poucas pinturas que se tornaram ícones emblemáticos da história recente como, por exemplo, Guernica de Picasso como imagem simbólica das guerras do século XX ou a lata de sopa Campbell de Andy Warhol como símbolo da sociedade de consumo e da cultura de massa.

Quero fazer uma pintura "histórica" contemporânea que testemunha e que procura analisar nosso tempo à luz de narrativas bíblicas.  

Inserção crítica na história e cultura contemporânea, referências literárias bíblicas e apropriações da história de arte são balizes. Os títulos são recorrentes na história da arte. As imagens comuns, pois tratam da condição humana atual. A perspectiva de leitura teológica pode ser surpreendente. Inverto a ordem do uso de pretextos: hoje em dia não preciso mais de um pretexto bíblico para pintar nudez ou violência, agora uso imagens da atualidade como pretexto para dar novos significados a narrativas bíblicas. 

Numa cultura marcada por processos opostos de secularização de um lado e, de outro lado, um novo fundamentalismo cristão de caráter pentecostal, procuro oferecer uma perspectiva de ética libertária e humanista.

Roberto Ploeg
Olinda, maio de 2014


Gênesis ou a Origem do Mundo


L' Origine du Monde (A Origem do Mundo), de 1866, é um quadro pintado pelo realista Gustave Courbet a pedido do diplomata turco otomano Khalil-Bey, que solicitou ao pintor uma pintura que retratasse o nu feminino na sua forma mais crua, por ser colecionador de imagens eróticas.
Trata-se de um óleo sobre tela de 46 cm por 55 cm que representa um plano fechado sobre o sexo e o ventre de uma mulher deitada nua sobre uma cama, as coxas afastadas.
A obra ficou literalmente escondida em coleções particulares, inclusive do psicanalista Jaques Lacan, até 1995 quando foi exposta pela primeira vez publicamente no Musée d'Orsay em Paris.
Hoje em dia o acesso a imagens cruas de genitálias nuas é tão corriqueiro que eu acho que um sexo vestido chega a ser mais sexy e erótico. Daí esta pintura. O título e o conceito são de Courbet. Sem dúvida é esta a origem do mundo! No botão do short está a letra hebraica "bet" de "bereshit", "no início", a primeira palavra do livro Gênesis, primeira letra da Torá.


a Origem do Mundo, segunda versão


e Deus Pai soltou os cachorros

A referência aqui é Masaccio (1401-1428), pintor italiano, precursor do Renascimento. Ele pintou em 1427 um afresco de Adão e Eva sendo expulsos do paraíso terrestre. Está na Capela de Brancacci na igreja de Santa Maria del Carmine em Florença. É uma pintura comovente, que expressa através do movimento e dos gestos das figuras uma emocionalidade dramática. O Renascimento se anuncia aí.

Pedi aos modelos assumirem essa mesma pose dramática. Os cachorros são ameaçadores e apressam a saída do paraíso.

Já que faço citações da história da arte e transporto essas referências para uma pintura contemporânea, fiz mais dois retratos pequenos de Adão e Eva, desta vez embrulhados em plástico bolha, prontos para transporte!




Masaccio, Adão e Eva expulsos do paraíso


o Choro de Adão embrulhado


o Lamento de Eva embrulhado


quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

os Cordeiros de Deus, Agni Dei

As figuras de Adão e Eva assumem a pose do Adão e Eva no políptico do Cordeiro de Deus de Jan van Eyck (1432) que se encontra na catedral de Gent na Bélgica. O cordeiro lembra o sacrifício redentor de Jesus Cristo na cruz. "Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo, tende piedade de nós." O cordeiro está em cima de um altar no meio de uma paisagem ampla com santos, profetas, apóstolos, mártires, clérigos, mulheres santas, eremitas, peregrinos, cavaleiros e reis vindo de todos os lados para adorar o cordeiro. Acima desta imagem está o Cristo entronizado, um Cristo do Juízo Final com Maria ao seu lado direito e o precursor São João Batista aos seu lado esquerdo, os mantos em azul, vermelho e verde. Nas laterais há anjos cantando em polifonia. E nos lados extremos há Adão e Eva. É uma pintura belíssima, a óleo sobre 24 painéis de madeira, de cores divinas, com detalhes incríveis particularmente da textura dos tecidos.

Eu mesmo não sou, digamos em termos teológicos, cristólatra. Minha compreensão da fé é ética e não ontológica. Crer no Messias significa ser Messias, ensaiar uma existência messiânica. Deus é conhecido somente enquanto é feito. Por isso no centro deste tríptico não um Cordeiro mas muitos Cordeiros, Agni Dei, de todas as cores e tamanhos representando a humanidade em toda sua diversidade.




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Susana no banho e os dois anciãos

A história da casta Susana está no livro de Daniel, capítulo 13.
Dois anciãos, juízes respeitados, tem uma tara pela linda Susana, mulher casada, mãe de filhos. Eles tramam estuprar a Susana mas esta resistiu. Num processo jurídico os dois juízes condenam Susana à morte por causa de um suposto adultério. Falsa acusação e falso testemunho. O profeta Daniel desmascara os velhos tarados e liberta a Susana.

Na história da arte a casta Susana foi pretexto para poder pintar cenas de voyeurismo com mulher nua.
A cena que apresento é de casa, mesmo que a inspiração vem de um quadro de David Hockney, "Portrait of an artist ( Pool and two figures)" de 1972.Tendo uma piscina no quadro é difícil escapar de Hockney!




Susana no banho


Betsabeia após receber um torpedo de Davi

Conheci a história de Betsabeia ou Batseba e o rei Davi através da pintura de Rembrandt. Ele pintou dois quadros lindos para os quais posou Hendrikje Stoffels. Batseba no banho, um quadro pequeno, parece um estudo, com pinceladas soltas e um quadro maior com Batseba nua, também no banho com uma serva lavando seus pés, pensativa, com uma carta do rei Davi na mão, Batseba sem saber o que fazer.
Vale a pena ler a história no segundo livro de Samuel, capítulo 11.


Judite e Holofernes

Judite triunfante fuma um baseado após matar Holofernes, general do exército assírio que sitiava a cidade de Betúlia.


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Pernas cruzadas


Retrato de Mariana


a Leitura


Atelier Ploeg no Sítio Ouro Verde


Não preciso ir longe par pintar paisagem. Moro num sítio e gosto de pintar no meio do mato. Me coloco embaixo de um cajueiro e olho para cima ou me aproximo de uma mangueira robusta. Veja as pinturas aqui em baixo.

Para conhecer atelier e casa clique nessa reportagem do Social 1:
http://blogs.ne10.uol.com.br/social1/2013/06/02/no-atelie-de-roberto-ploeg/

a Mangueira


terça-feira, 3 de dezembro de 2013

cajueiro com céu de verão


no meio do mato


Schildersweek Domburg, Semana dos Pintores em Domburg


Participei nos dias 04 a 11 de maio de 2013 da 10' edição do Festival de Pintura "Schildersweek Domburg" .(Veja: www.schildersweek.nl) Domburg é um balneário localizado no sudoeste da Holanda na província de Zeelândia. O local é conhecido por sua luminosidade. No início do século passado vários pintores famosos passavam temporada em Domburg para trabalhar, entre eles Jan e Charly Toorop, Jan Sluijters e Piet Mondriaan.

O Festival de Pintura quer renovar este elã da cidade de ser uma colônia de artistas. Neste ano participaram 27 pintores e três fotógrafos vindos de 11 países, Argentina, Brasil, Mexico, Estados Unidos, Africa do Sul, Irlanda, Bélgica, Alemanha, Rússia, Polônia e Holanda. Nas fotos: o russo Kirill Datsouk e a americana Diane Lyon em ação na praia. Depois dois retratos em óleo sobre tela que pintei em meia hora cada retrato, no meio da rua, cercado por um monte de gente. Foi um desafio terrível para mim acostumado que sou com o sossego do meu ateliê de me ver num Place du Tertre em Domburg.

Abaixo dessas fotos seguem algumas pinturas que fiz nessa semana na Holanda. 



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

o inverno passou

Tá na hora guardar as botas e tirar os chinelos do armário.





Cabanas de praia

Ao longo da praia tem essas cabanas para o pessoal trocar de roupa.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Retrato de Bernard

Meu amigo e compadre Bernard passou dois dias comigo em Domburg, nos quais trabalhamos neste retrato.

Retrato de Titus

Retratei meu amigo Titus numa sessão só no dia que passou comigo em Domburg.
Titus, o.s.t., 120 x 80 cm, 2013

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O Senhor Morto em Olinda


Pintei dois quadros, um grande de 180 por 200 cm, e um pequeno, de 80 por 60 cm, que retratam a procissão do Senhor Morto em Olinda.  Participo todo ano desta procissão e, pela segunda vez (veja postagem de maio 2009), procurei pintar minhas observações e emoções.

A Sexta-Feira Santa em Pernambuco é bem particular. Comida em abundância, um almoço de comidas típicas como quibebe, feijão, bredo, peixe, purê, tudo preparado com leite de coco. Vinho também em abundância. “O verdadeiro jejum” (Isaías 58) consiste na reunião da família e dos amigos em torno da mesa. Ninguém pode faltar. Há um esforço de avisar e chamar o pessoal como se fosse para o velório de um parente.
Na Via Sacra em Olinda continua esse mesmo enredo. Parece o enterro de uma pessoa conhecida, próxima ou da família. As antigas irmandades com suas roupas coloridas carregam as imagens. Na frente vai o Senhor Morto seguido por Verônica, pela mãe Maria e pelo discípulo amado João. Os Santos se sobressaem acima da multidão que nem os bonecos gigantes do Carnaval Olindense. Um velho carro de som dá volume às rezas e cânticos de um frade franciscano e o povo vai acompanhando pelas ruas da cidade alta, rezando, conversando, chupando pitomba. Até algodão doce é vendido. Não tem essa história de distinção entre sagrado e profano. É um sentimento só. Vamos enterrar um conhecido, Jesus de Nazaré.

a Origem do Mundo