O quadro lembra uma foto da página
policial da Folha de Pernambuco, que de fato foi a fonte para esta pintura. Faz
um ano que vi a foto e li a história triste do homem deitado, morto, e seu
parente, um irmão, em pé, indignado.
O que aconteceu? O morto era
pedreiro, gostava de tomar uma e bebo se envolveu numa briga de bar no Ibura.
Apanhou bastante. A polícia o levou para a UPA onde foi medicado e logo mandado
para casa. De novo a polícia o levou, ele entrou em casa andando, deitou-se,
cobriu-se e morreu devido ao espancamento. A história terminou aí. Ninguém foi
responsabilizado.
Me veio à mente a história de
Caim e Abel e a pergunta insistente de Deus a Caim: “Onde está teu irmão?”
Caim: “Sei lá, por acaso sou responsável por meu irmão?”
Na minha pintura é Caim que levanta
a mão em defesa de si mesmo, esconde o rosto, já pronto para sair da cena. Abel
deitado, meio cinzento como o cobertor e o chão, lembra até o Cristo Morto.
Claro e escuro dividem a tela. Um saco de cimento aberto no meio da casa pois a
vida está em permanente construção. Os bens duráveis de sempre e de todos, som,
liquidificador, ventilador e televisão. Cascos secos, sobras de algum prazer.
Comida pouca. Tênis guardado para ocasiões especiais. Retrato da pobreza.
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